O cientista pernambucano Gabriel Lins faz história como o primeiro biomédico brasileiro a atuar na Antártida. Liderando o projeto SaudeAntar, ele trabalha na integração de tecnologia avançada e saúde para apoiar comunidades em áreas remotas. Através de um aplicativo inovador, desenvolvido no âmbito do programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), Gabriel e sua equipe monitoram a saúde mental dos usuários, ao focar em parâmetros como sono e humor. Com o uso da Inteligência Artificial, o sistema pode identificar alterações preocupantes no bem-estar dos indivíduos e emitir alertas para a necessidade de intervenção profissional.

Com mais de 400 pessoas já beneficiadas, o projeto SaudeAntar é um marco na aplicação da ciência para o bem-estar humano em condições extremas. Gabriel Lins está comprometido em expandir o impacto de sua pesquisa, levando essas tecnologias para outras regiões isoladas que precisam de suporte em saúde. Além de seu trabalho na Antártida, ele também atua como professor, desenvolvendo soluções inovadoras que vão desde biossensores até aplicativos, sempre com o objetivo de tornar o acesso à saúde mais eficaz e acessível para todos.

Confira a entrevista produzida pela equipe de comunicação do Conselho Regional de Biomedicina da 2º Região (CRBM2) com o cientista pernambucano.

CRBM2 – Gabriel, como se chama este projeto? Pertence à Universidade Pública?

Gabriel – O projeto se chama SaudeAntar e envolve várias universidades públicas do Brasil, incluindo a UFPE. Ele é coordenado pelo professor Jairo Werner, da UFF, e faz parte do programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), que é fomentado pelo MCTI, através do CNPq, e pela Marinha do Brasil, com apoio logístico também da Força Aérea Brasileira.

CRBM2 – Você desenvolve um projeto que pretende aliar tecnologia e saúde para beneficiar pessoas que estão em áreas remotas, como a Antártida, por exemplo. Explica como funciona esse projeto.

Gabriel – Estamos trabalhando na concepção de um aplicativo, projetado para marcar consultas e permitir o atendimento remoto, por exemplo. Na sua primeira versão, o foco está em dois parâmetros: sono e humor. Ele inclui um questionário diário, uma adaptação da anamnese desenvolvida pela equipe de psiquiatras para monitorar a saúde mental, além de um diário interativo para o usuário relatar suas experiências. Se o texto do diário mostrar alterações preocupantes de humor, o sistema emite uma notificação sinalizando a necessidade de conversar com um profissional. O app também permite marcar consultas e acompanhar a qualidade do sono do usuário através dos sensores do celular, além de um questionário de acompanhamento.

CRBM2 – Quantas pessoas já foram beneficiadas?

Gabriel – Mais de 400 pessoas foram atendidas desde o início das atividades do SaudeAntar.

CRBM2 – Qual é o futuro do projeto? Pretende levar para outros locais?

Gabriel – Vamos aprimorar a tecnologia para expandir o atendimento além da saúde mental e levar o projeto para outras áreas remotas, como ilhas e regiões afastadas que necessitam de apoio no âmbito da saúde.

CRBM2 – Quais são os desafios de trabalhar em uma parte extrema do mundo?

Gabriel – Tudo é complicado. A civilização mais próxima fica a dias de navio. Geralmente, ficamos acampados em ilhas inóspitas, com apenas os geradores de energia que nem sempre sobrevivem ao clima, e a água que trouxemos, já que não é possível usar a do ambiente. Mas é esse tipo de desafio que possibilita o desenvolvimento das melhores tecnologias e metodologias.

CRBM2 – Atualmente, você está na Antártida?

Gabriel – Estou no Brasil, mas retorno à Antártida em outubro e ficarei lá até dezembro.

CRBM2 – Fale um pouco dos projetos desenvolvidos por você

Gabriel – Sou biomédico com foco em tecnologia, então boa parte do meu tempo é dedicada à descentralização da saúde, desenvolvendo hardware e software para resolver problemas nessa área, desde biossensores até aplicativos. Atualmente, sou professor do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), uma OS. Lá, tenho a oportunidade de usar toda a minha expertise e contatos para encontrar soluções para diversos problemas e demandas que chegam do governo. Para mim, é divertido e compensador usar 100% da minha capacidade em prol do público.

Biomédico pernambucano lidera iniciativa global para expandir atendimento de saúde em regiões remotas